O que provoca a queda ou alta do dólar?
Entenda o que causa a queda ou alta do dólar, sua relação com inflação, Selic e aumento dos preços, além dos impactos dessa flutuação para o seu bolso
13 de abril de 2022 Atualizado em 28 de setembro de 2023
O dólar americano (USD) — sim, existem outros dólares, como por exemplo o canadense e o australiano — é assunto diário no noticiário brasileiro. Mas por quê? A gente vai te explicar o motivo da queda ou alta do dólar ser tão importante para o seu dia a dia.
Desde 1999 o Brasil utiliza o sistema de câmbio flutuante para balancear o Real em relação a moedas estrangeiras, principalmente ao dólar, que é referência no mundo inteiro.
Na prática, o câmbio flutuante significa que as operações de compra e venda de moedas funcionam sem controle sistemático do governo.
Ou seja, o valor do dólar em relação ao real varia principalmente de acordo com quantas pessoas querem comprar ou vender dólar no nosso país. É a lei da oferta e da demanda, que já explicamos ao responder o que é inflação.
Assim como no Brasil, o dólar costuma ser usado como referência para medir o valor de outras moedas.
E a importância do dólar para o cálculo do valor de uma moeda se dá por diversos fatores. Olha só alguns deles:
- O dólar costuma ser bastante estável, mesmo em momentos de crise;
- A importância e força da economia norte-americana no mundo todo;
- O dólar é usado em negociação de diversas commodities em dólar, como o barril de petróleo, por exemplo;
- As reservas internacionais de um país normalmente são em dólar.
Quais são os principais tipos de dólar?
Você já deve ter visto na televisão ou em jornais alguém se referir a “dólar comercial”. Ou quando foi organizar uma viagem, se deparou com o “dólar turismo”. Afinal, quais são os tipos de dólar e qual é o mais importante para acompanhar?
Dólar à vista
Todos os dias, a bolsa de valores do Brasil, a B3, faz negociações de dólar com bancos e instituições financeiras. É daí que surge o dólar à vista.
Dólar comercial
É o mais comum de usar quando se fala da alta ou queda do dólar, e é usado para calcular os preços de importações e exportações. Varia de acordo com quantas pessoas compram e vendem.
Dólar turismo
O dólar turismo é normalmente mais caro do que o dólar comercial, porque é o valor que costuma ser oferecido nas casas de câmbio ou em uma compra estrangeira no cartão de crédito.
Dólar paralelo
É negociado à parte, fora das regulamentações cambiais, sem supervisão do Banco Central. Alguns exemplos são comprar dólar de um amigo ou familiar, ou até mesmo ir até ir à casa de câmbio em outro país para compra da moeda.
Leia mais: Como comprar dólar online ou outras moedas no app PicPay
Dólar futuro
É usado especialmente por empresas e investidores, que fazem transações hoje de olho na cotação que esperam que o dólar terá em algum período do futuro. Também pode ser uma forma de proteção contra as flutuações da moeda de um país.
Quem diminui e quem aumenta o valor do dólar?
O que faz o dólar subir ou descer é a procura por dólar no país em comparação com a quantidade disponível. Se muitas pessoas e instituições buscam a moeda norte-americana, mas a disponibilidade é baixa, o valor do dólar comercial sobe.
Por outro lado, se a quantidade de moeda está sobrando em relação à demanda por ela, a cotação dela diminui. Quer entender o que faz a oferta e a procura oscilarem? Continue a leitura.
O que faz o dólar subir
Nós já te falamos que o que provoca a alta do dólar é uma demanda pela moeda maior que a oferta. Algumas situações podem gerar esse movimento.
O que faz o dólar subir? Os principais motivos são:
- Instabilidade política e econômica no Brasil: isso faz com que investidores estrangeiros retirem investimentos no país, reduzindo a oferta;
- Juros altos nos Estados Unidos: se os juros estão altos nos EUA, a tendência é de que investidores brasileiros optem por colocar dinheiro lá;
- Déficit comercial: quando o Brasil importa mais produtos do exterior do que exporta, o caixa de dólar interno é esvaziado;
- Turismo no exterior em alta: turistas fora do país fazem com que a procura por dólar por aqui seja maior.
Alguns desses cenários puderam ser observados no Brasil nos dois últimos anos, quando o dólar comercial chegou a ser cotado a quase R$ 6, em 2020, recorde histórico.
Ou seja, foi o maior valor já registrado, mas sem considerar a correção monetária com base na inflação.
À época, a pandemia da Covid-19 foi um dos principais fatores para essa alta, já que o mercado global entrou em uma onda pessimista. Além do mais, a instabilidade política brasileira também foi determinante para a valorização do dólar.
O que faz o dólar abaixar
Para entender o que faz o dólar abaixar, basta pensar em situações opostas às descritas acima, com uma quantidade de moeda disponível superior à demandada.
Veja os principais motivos para a queda do dólar:
- Estabilidade política e econômica no Brasil: o que atrai investimento estrangeiro;
- Juros altos no Brasil: também fazendo com que investidores de fora do país tragam dinheiro para cá;
- Superávit comercial: quando o Brasil exporta mais do que importa, aumentando a oferta de moeda;
- Turismo interno em alta: quando turistas estrangeiros gastam dinheiro no país, a quantidade de dólar disponível no Brasil também aumenta.
Impactos da alta do dólar no seu bolso
Você pensa que a alta do dólar é importante apenas para quem deseja viajar para fora do país ou para quem tem investimentos por lá? Não é assim e a gente te explica os motivos.
Como falamos no início do texto, a moeda norte-americana é utilizada com referência no mundo inteiro e a cotação dela é determinante para a valorização ou desvalorização de produtos e serviços do seu cotidiano.
Então, quando o dólar aumenta o que acontece no Brasil? Confira abaixo.
Alimentos mais caros
Os efeitos da alta do dólar sobre o valor dos alimentos ocorrem em mais de uma via. Você deve ter notado um aumento considerável no preço da carne nos últimos anos, certo? O dólar tem a ver com isso.
Com o dólar valorizado, a tendência é que os produtores de carne prefiram vender para fora do país. Com a exportação em alta, o mercado interno pode sofrer com o desabastecimento, provocando um aumento nos preços.
Além da carne, outros produtos básicos são negociados com base no dólar, como soja, milho, açúcar e café. Nos últimos 12 meses, a alta do preço do café foi de 66%, segundo a Associação Brasileira de Supermercados.
Agora, você pode estar se perguntando: como o aumento no preço do dólar pode ser ruim para a economia, se produtores brasileiros que exportam acabam tendo um maior rendimento?
Isso é verdade só em parte. Com os preços mais altos, os produtores brasileiros podem se beneficiar. Mas é preciso considerar outros fatores: o custo do frete, seguro internacional, impostos, taxas e tarifas também são maiores.
Ou seja, a alta do dólar pode ser até mesmo um empecilho para os produtores conseguirem obter lucro nas suas vendas.
Em outra mão, o aumento do dólar encarece a importação de diversos alimentos, como por exemplo a farinha. Via de regra, pães e demais massas são alguns dos alimentos mais afetados pela flutuação da moeda norte-americana.
Valores mais altos de produtos eletrônicos
Como você deve saber, o Brasil não é um grande produtor tecnológico e depende da importação de produtos eletrônicos como smartphones e computadores, por exemplo, além de peças.
Por conta disso, quando o dólar sobe, os preços desses produtos também aumentam por aqui.
Os combustíveis ficam mais caros
O petróleo é outra commodity negociada em dólar. Um levantamento da ValeCard, empresa especializada na gestão de frotas, apontou que o preço da gasolina no país subiu 58,5% nos últimos dois anos.
Período | Preço médio por litro | Variação |
Março de 2020 | R$ 4,598 | – |
Março de 2021 | R$ 5,726 | 25,31% ante 2020 |
Março de 2022 | R$ 7,288 | 27,26% ante 2021 e 58,5% ante 2022 |
Desde 2016, a Petrobras adota a política de Preço de Paridade de Importação, fazendo o reajuste dos preços dos combustíveis no Brasil segundo a variação do preço do petróleo no mercado internacional.
É importante ressaltar que o principal fator para o aumento no preço da gasolina e demais combustíveis foi a valorização do barril de petróleo, que atingiu o maior valor dos últimos oito anos em março de 2022, em meio a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Leia mais: Como a alta do petróleo afeta diretamente o seu bolso
Contudo, a variação da moeda norte-americana também é determinante para a definição do preço nos postos de combustíveis, visto que o petróleo é negociado em dólar.
Viajar para fora do país
O encarecimento de viagens internacionais talvez seja a consequência mais óbvia da alta do dólar.
A questão é que não apenas o turismo nos Estados Unidos se torna mais caro, mas para quase todos os países, já que as passagens internacionais são negociadas em dólar.
Existe algum benefício para a economia quando o dólar está elevado?
Será que o movimento de alta da moeda é prejudicial para todos? Não, a alta do dólar pode ser benéfica para o turismo interno, por exemplo.
Já que fica caro viajar para o exterior, os brasileiros tendem a visitar locais no próprio país e, assim, incentivar a economia.
Além disso, ao ver o real desvalorizado, os estrangeiros podem ver o Brasil como um destino barato e mais atrativo e viajar para cá.
O que acontece quando o valor do dólar diminui?
Se com o dólar em alta, produtos e serviços como alimentos, combustíveis e turismo também ficam mais caros, quando ele abaixa, a tendência é de que eles também diminuam de valor.
Entretanto, nem sempre isso pode ser observado instantaneamente, principalmente pelo fato de que mesmo o dólar operando em baixa, algumas commodities podem continuar em alta, como é o caso da gasolina, por exemplo.
Variação do dólar desde o início da pandemia
Período | Cotação em Real |
Quarto trimestre de 2019 | R$ 4,0301 |
Primeiro trimestre de 2020 | R$ 5,1981 |
Segundo trimestre de 2020 | R$ 5,4754 |
Terceiro trimestre de 2020 | R$ 5,6401 |
Quarto trimestre de 2020 | R$ 5,1961 |
Primeiro trimestre de 2021 | R$ 5,6967 |
Segundo trimestre de 2021 | R$ 5,0016 |
Terceiro trimestre de 2021 | R$ 5,4388 |
Quarto trimestre de 2021 | R$ 5,5799 |
Janeiro de 2022 | R$ 5,3568 |
Fevereiro de 2022 | R$ 5,1388 |
Março de 2022 | R$ 4,7273 |
Abril de 2022 | R$ 4,9185 |
Maio de 2022 | R$ 4,7283 |
Junho de 2022 | R$ 5,2374 |
Julho de 2022 | R$ 5,2143 |
Agosto de 2022 | R$ 5,1784 |
Setembro de 2022 | R$ 5,4060 |
Outubro de 2022 | R$ 5,2564 |
Relação do dólar com inflação e Selic
Em março de 2022, foi possível um movimento de queda do dólar. A moeda norte-americana atingiu o menor valor desde o início da pandemia, chegando a ser cotada a menos de R$ 4,70.
O principal motivo para a queda do dólar foi o aumento da taxa Selic, a taxa de juros básica da economia brasileira.
Depois disso, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic várias outras vezes, até chegar ao nível de 13,75% ao ano, em agosto de 2022.
Em julho de 2023, o Copom iniciou o ciclo de quedas, com cinco cortes consecutivos de 0,50% pontos percentuais. Hoje a Selic está em 11,25% ao ano.
Este cenário contribui para a atração de investidores estrangeiros ao mercado brasileiro, trazendo uma quantidade maior de dólar ao país.
Os investidores buscam fazer investimentos e ter retornos mais altos, já que os juros estão maiores.
Mas, afinal, como o governo, por meio de uma política monetária, pode afetar o valor do dólar? A resposta é simples: com a alta ou queda da taxa de juros, a Selic, que é a principal ferramenta do Banco Central para combater a inflação.
Já deve ter ficado claro que o valor da moeda americana impacta diretamente na economia brasileira.
Com isso, o aumento da moeda norte-americana pode causar a chamada inflação do dólar.
Isso porque vários produtos monitorados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação no Brasil, sofrem influência da flutuação cambial.
Ou seja, se o dólar sobe, a inflação é impactada e também tende a aumentar.
Em outro sentido, o dólar também tem relação com a taxa Selic, utilizada para conter a inflação. Se o IPCA sobe, a Selic também tende a subir. O resultado disso? O dólar tende a diminuir, pelo menos por esse fator, como explicamos anteriormente.
E, afinal, como cuidar do seu dinheiro em um cenário como esse? No conteúdo sobre a taxa Selic, você confere algumas dicas que são úteis também para preservar as finanças de acordo com os movimentos do dólar.
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