Economês de junho: para onde vai o dólar?

Confira a análise mensal do economista-chefe do PicPay, Marco Caruso, com uma visão macro do cenário econômico no Brasil e no mundo

25 de junho de 2024

O cenário econômico é volátil e está sempre mudando. Além do podcast Diário Econômico, publicado de segunda a sexta-feira, o PicPay conta com um videocast mensal, o Economês.

No programa, o economista-chefe da instituição, Marco Caruso, traz uma visão macro do cenário econômico no Brasil e no mundo, com projeções atualizadas de PIB, IPCA, Selic e Câmbio, em vídeo. 

No episódio deste mês, Caruso analisa o momento do dólar, que atingiu suas máximas em quase dois anos durante o mês de junho. Além do cenário externo, a incerteza fiscal por aqui tem feito preço na moeda. 

Confira o episódio abaixo e a análise do economista por escrito: 

#9 Economês – Para onde vai o dólar?

Por Marco Caruso, economista-chefe do PicPay

Global 

Três grandes temas lá fora têm norteado os mercados. 

1) O aumento da incerteza em países emergentes, especialmente no pós-eleições em locais como México, Índia e África do Sul, não sem gerar alguns ruídos. Também temos observado uma crise na Colômbia. Esse panorama dos emergentes tem contagiado negativamente o Brasil. 

2) Incertezas no G7. Quase todo o grupo dos países desenvolvidos podem acabar mudando seus comandantes nas eleições que estão por vir. Depois da eleição do Parlamento Europeu, o assunto veio ainda mais à tona, com mudanças importantes nos assentos. 

3) Ativos denominados em dólares têm atraído capital. A bolsa americana está nas máximas, com grande demanda pelos títulos públicos americanos, gerando um ambiente de dólar forte. 

Somados, estes três pontos se traduzem em um cenário externo que voltou a exigir uma cautela maior para um país emergente como o Brasil.

Câmbio 

O cenário externo tem pressionado o real. O dólar atingiu suas máximas em quase dois anos durante o mês de junho. 

Parte disso se deve ao exterior, mas o que têm predominado na piora do dólar por aqui são os fatores domésticos. Essencialmente porque as contas públicas voltaram a trazer dúvidas. 

O país vive um momento de incerteza fiscal, com o governo reduzindo o superávit projetado para os próximos anos e começando a ver um certo limite do ajuste fiscal sendo feito pelo lado da receita, evidenciado pela discussão do PIS/COFINS. 

A partir daqui, é preciso começar a pensar em cortes de despesas, e o mercado se pergunta se haverá essa disposição por parte do governo.

Somado a outros fatores, com o patamar de apostas contra o real batendo máximas de uma década, esse cenário sugere que o movimento de dólar forte pode ser mais permanente no país do que imaginávamos. 

Ainda mais porque essa alta do dólar veio com uma volatilidade baixa, o que parece uma contradição, mas sugere um caráter mais duradouro. 

Esses pontos nos levaram a uma revisão do dólar no fechamento de 2024 para R$ 5,30 (vs. R$ 5,00 anteriormente). Para o ano que vem, já prevíamos um cenário mais complicado, mas também elevamos nossa projeção para R$ 5,30 em 2025 (vs. R$ 5,10 anteriormente)

IPCA

Puxada principalmente por esse movimento de alta do dólar, revisamos a nossa projeção de inflação para 4,1% em 2024 (vs. 3,8% anteriormente)

Além do câmbio, esse aumento também se deve a uma pressão maior das commodities em real, nos alimentos no segundo semestre e aos números do IPCA de maio, mais elevados do que o esperado.

Apesar disso, para 2025, mantemos o IPCA em 4,2%. Embora o dólar forte pudesse se traduzir em um número mais alto para a inflação, também estamos revendo os rumos da Selic para o ano, gerando um contrapeso.

Selic

O Copom recentemente manteve a Selic em 10,50% de forma unânime, como esperado por nós e pelo consenso. Isso trouxe uma tranquilidade temporária para o mercado, já que na votação anterior houve uma dissidência dos membros do Comitê. 

Mais do que a decisão, o comunicado trouxe alguns apontamentos importantes. Por um lado, o Copom até abriu uma pequena brecha para subir juros se necessário. 

No entanto, o cenário para inflação me parece bastante otimista, indicando um Banco Central que, apesar de pausar os cortes, ainda não descarta voltar a reduzir juros possivelmente no ano que vem. 

Então, mantemos nossa projeção de que a Selic deve fechar 2024 em 10,50% e, para 2025, em 9,75%. Para o ano que vem, fizemos uma pequena mudança: o início dos cortes deve ocorrer mais tarde. 

Antes previstos para o primeiro semestre, agora imaginamos que devem ser adiados para a virada entre primeiro e segundo semestre do ano, quando 2026 se tornar o horizonte relevante de decisão do Comitê. 

Parte do mercado tem discutido alta, mas, aqui, esperamos que a próxima composição do Copom ainda tente optar por juros mais baixos.

PIB

O PIB do 1T24 divulgado recentemente superou as expectativas do mercado e as nossas projeções, com um crescimento de 0,8% em comparação com o trimestre anterior. 

Tanto isso quanto outros pontos nos sugerem que ainda segue válida nossa perspectiva de que, se não fossem os eventos do Rio Grande do Sul, estaríamos até revisando o PIB deste ano para cima. 

No momento, mantemos a projeção de 2,1% de crescimento em 2024 e de 2% em 2025, mas com um viés de alta para o número deste ano. 

Falando do RS, diferentes indicadores que monitoram gastos no estado com Pix e cartão de crédito apontam que a compra de bens cresce bem — quase dois dígitos em comparação com o ano passado. E até o consumo de serviços tem crescido. 

Logo, parece haver uma recuperação até antes do previsto.

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